Ser com ela

Larissa Nicolosi
5 min readAug 21, 2023

Eu e Val estamos passando por um coração partido ao mesmo tempo. Hoje foi basicamente aquele dia que a gente se olha e fala: “é…”, “aiai”, “pra você ver, né” pelo menos 8 vezes por dia. Tá, podia ser pior: podia ser o coração partido pelo mesmo cara, considerando que fazemos muita coisa igual sem perceber. A nossa sorte é que temos um gosto diferente.

Mas, apesar de todo coro de músicas tristes e céu cinza que um amor não correspondido traz, a gente tira sarro porque pelo menos temos uma a outra.

Ser qualquer coisa com ela é bem melhor do que ser sozinha. A Val é o tipo de pessoa que muda a história de qualquer um que a desenhe nas páginas em branco da vida. Na minha não foi diferente.

Penso que encontrei a Val não por puro acaso, mas sim porque era preciso, parafraseando Guimarães Rosa. Quando ela chegou, me salvou de ter que fazer marketing de loja, coisa que não tenho aptidão nenhuma, pois meu naipe é o ramo institucional. E ela ornou como uma luva, parece que o lugar dela era ali. Felizmente, do meu lado, literalmente (quanto ente, perdão). No começo, não tínhamos muita confiança, era eu lá e ela cá. Eis que algumas coincidências musicais começaram a surgir, uma emo reconhecendo a outra e assim vai.

Um dia, não passei no Detran e chorei horrores, aí ela me mandou uma mensagem fofinha para consolar. Acho que eu comecei a tirar mais o fone de ouvido e falar abobrinha com ela depois disso.

Mas o divisor de águas foi quando me separei. Fui traída, passei por um relacionamento abusivo e todas as coisas que um dia vão virar texto, mas não hoje. Acontece que Val também teve uma pancada grande desse tipo, e foi aí que tudo mudou. Mais do que se entender, a gente se acolhia, dentre vários “aham!!”, “comigo também foi assim”, “exatamente assim”. Aí começamos a sair juntas e era leve, não tinha que impressionar ou ser mais do que sou. A Val desde o início me transforma na minha melhor versão ao mesmo tempo que sei que posso ser o monstro da TPM na frente dela que vai me acolher da mesma forma.

Faz menos de um ano, mas é tão forte, talvez porque ela é uma fortaleza e transpasse isso a cada um que com ela cria laço. Vejo nela meu porto seguro para muitas coisas e acho que ela também. Tipo um dia que fomos no MC Donalds e o papel dela não foi impresso no tótem, aí ela olhou pra trás desesperada me chamando. Assim como qualquer coisinha já peço a opinião dela.

Vejo nela coerência e justiça, coração e razão, coragem para encarar e para recolher os sentimentos. Vejo nela quem eu quero contar tudo e, da mesma forma, alguém que sei que me lê no “bom dia”. Parece definição de casal, né? Mas amar uma melhor amiga é tão grande quanto, uma das coisas mais intensas que se pode experimentar quando é real. E intensidade não tem nada a ver com desespero, aqui o termo significa não precisar viver um amor ansioso e, ver na outra, um lar.

Faz menos de um ano mas uma já completa frases da outra, usamos calça quadriculada e allstar no mesmo dia ou sabemos quando a outra tá chegando. Essas coincidências fazem a gente se olhar e pensar: “que isso?”, tal como a vez que tivemos a mesma ideia de ir ao banheiro e nos encontramos lá por acaso.

No começo, cada conversa tinha uma semelhança. Ter família católica, ter vivido (e viver) a fase emo, ir ao Peppers (e continuar indo), os dates que não rendiam papo romântico, mas sim entretenimento de qualidade, as lutas diárias para a independência. Ao mesmo tempo que tem tanta coisa igual, volta e meia aparece alguma que é totalmente o contrário e nos tira boas risadas, e mesmo assim parece que tudo se encaixa como se fosse para ser. Apesar de passar horas falando dezenas de milhares de coisas, o silêncio com ela é confortável, e a gente sabe exatamente a hora que a outra precisa dele. Quando não é o momento de ficar tentando mudar o sentimento no coração, mas sim apenas estar ali. A gente não fica tentando se resolver, mas existimos como apoio nas situações da vida. Isso muda tudo.

Eu sei que ela terá obstáculos que não vou poder evitar, tipo o coração partido. É claro que eu não entendo um cara ser burro ao ponto de não namorar a minha amiga, visto que ela é uma das pessoas mais bonitas de aparência e alma que eu já conheci (e demais adjetivos que deixarei abaixo), mas sei que é muito mais eficaz fazê-la rir do que ficar tentando convencê-la toda hora que é tudo isso e mais um pouco. Tem horas que a gente precisa entender que ser amigo é muito mais do que só falar. É estar. E a minha disponibilidade para ela é integral, mesmo nas correrias da vida. Ela é uma das únicas pessoas que me faz parar, acho que isso diz muito sobre amor. Amar é desacelerar.

A encontrei no momento que mais precisava. Se renasci de janeiro para cá, tem muito dela nisso. Se cresci e sou melhor, tem influência dela em mim. Tem horas que não sei o que seria de mim sem ela, isso me assusta, pois vínculos assim não são corriqueiros. Mas acho que a graça do amor incondicional é, mesmo temendo o futuro, fazer de tudo para que o hoje seja bom. Que se, não houver presença (sei lá, vai que ela arranja um emprego na Tailândia?), tenha lembrança. Que tenha ela sempre sendo uma das minhas melhores partes.

Mais do que ser Larinha, amo ser Larinha amiga da Valéria. Existir com ela é melhor ainda.

Que todo mundo tenha a chance de ter uma Valerinha na vida
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Larissa Nicolosi

Contando uma história sem perder a estribeira // Jornalista formada pela UFPR.